Assim que conseguir juntar um grupo adequado de músicos, você deve começar a tocar em grupo. Isso ajuda por vários motivos. Primeiro, se vários músicos estão aproximadamente no mesmo nível de habilidade, podem aprender juntos. Se um membro é mais avançado do que os outros, pode ajudá-los durante os encontros. Uma boa seção rítmica frequentemente pode dar ideias a um solista ou ajudar a dar-lhe a confiança que lhe permita arriscar mais. Por outro lado, você deve evitar a tentação de ter muitos instrumentistas de sopro, pois vai ver que as músicas se arrastam cada vez mais com cada um fazendo seu solo. A seção rítmica vai se cansar da progressão de acordes e os solistas vão ficar impacientes à espera da vez deles. Talvez seja contraproducente ter mais do que uns oito músicos ao mesmo tempo para este propósito.
Organização
Uma vez que um grupo apropriado de pessoas foi reunido, é preciso decidir o que tocar. Se todos no grupo tiverem acesso aos mesmos fakebooks, isso ajuda. Dessa maneira, quando uma pessoa sugerir uma música, pode-se ter uma razoável certeza de que todos terão ela em seus livros. The New Real Book, de Chuck Sher, é recomendado, já que ele está disponível em versões transpostas para a maioria dos instrumentos de sopro, e contém uma boa variedade de músicas. Talvez seja uma boa acertar com antecedência as músicas que serão trabalhadas, para que todos tenham a chance de se familiarizar com as mudanças de acordes.
Embora não seja necessário designar um líder para o grupo, ajuda que haja alguém para escolher as músicas, decidir a ordem dos solistas, determinar o andamento, fazer a contagem da música, e fazer andar as coisas em geral. Não é essencial que essa pessoa seja o melhor músico do grupo, mas deve ser alguém com algumas habilidades de organização e liderança.
Começos
Uma vez que tenha sido escolhida uma música, é preciso ter em mente as coisas que dissemos sobre a forma. Normalmente, o grupo tocaria primeiro a melodia. Enquanto estiver aprendendo uma música, você pode decidir que todos toquem em uníssono, mas deve uma hora dar a cada músico a chance de tocar a apresentação inicial do tema (“head“) sozinho, para permitir que todos trabalhem numa manifestação pessoal mesmo quando estiverem simplesmente tocando a melodia. Além disso, numa apresentação é geralmente mais interessante para o ouvinte escutar a melodia interpretada por um músico, em vez de manifesta em uníssono. Isso é especialmente verdade para baladas. Músicas rápidas de bebop são entretanto tocadas normalmente em uníssono.
Para músicas com forma de 32 compassos, o tema head é geralmente tocado só uma vez. Para músicas de blues ou outras formas mais curtas, ele é geralmente tocado duas vezes. As melodias de muitas músicas acabam no penúltimo compasso da forma. Por exemplo, o blues de doze compassos “Sandu”, de Clifford Brown, acaba no primeiro tempo do décimo primeiro compasso. Geralmente a seção rítmica para de tocar nos últimos dois compassos da forma para permitir ao primeiro solista dois compassos desacompanhados de “passagem”, ou intervalo do solo. Em algumas músicas, como em “Moment’s Notice”, de John Coltrane, esse intervalo é geralmente observado em cada chorus, mas geralmente ele só é feito como uma passagem para o primeiro solo, ou no máximo como uma passagem para cada solo.
Meios
Uma vez que você esteja no seu solo, estará basicamente sozinho, embora deva ouvir o que todos os outros estão fazendo em volta de você, reagindo ao que eles estão tocando, e conduzindo-os com sua própria música. Essa é a sua chance de aplicar as técnicas que aprendeu até agora. Pense melodicamente. Corra riscos. Divirta-se!
Já dissemos várias vezes que um solo deve contar uma história. Isso significa que ele deve ter uma exposição clara, desenvolvimento, clímax e desfecho. Se você fosse fazer um gráfico do nível de intensidade de um bom solo, com frequência descobriria que ele começa num nível baixo e lentamente cresce até um clímax, depois do qual ele relaxa rapidamente para abrir para o próximo solista, ou seja, o que for que vier em seguida. Iniciantes geralmente têm dificuldade de decidir o número de chorus a tocar. Isso é uma coisa que varia de músico para músico. Charlie Parker normalmente tocava somente um ou dois em gravações, embora isso fosse parcialmente devido às limitações do formato dos discos de 78 RPM. John Coltrane frequentemente tocava dezenas de chorus, especialmente em apresentações. Quando há muitos solistas, você deve tentar manter o número baixo, para evitar que todo o resto do grupo se canse. De qualquer maneira, quando você está aproximando o final de seu solo, deve de alguma maneira transmitir esse fato aos outros músicos para que eles possam decidir quem entra em seguida, ou se eles querem fazer um revezamento de quatro compassos, ou eliminar a apresentação inicial do tema.
Se você pretende revezar de quatro em quatro compassos depois do último solo, alguém geralmente indica isso mostrando quatro dedos onde todos possam vê-los. Geralmente, os solistas tocam na mesma ordem em que eles originalmente tocaram, tocando quatro compassos cada um. O baixista geralmente fica de lado; às vezes o pianista também. Frequentemente, o baterista toca quatro compassos entre cada um dos outros solistas. Ainda mais do que durante os solos originais, a intensidade das frases de quatro compassos estarão geralmente num nível consistentemente alto, e os solistas devem tentar desenvolver e avançar as ideias uns dos outros. Esse ciclo pode ser repetido por quanto tempo se desejar; alguém vai geralmente apontar sua cabeça (“head” em inglês) para indicar um retorno à head, o tema.
Fins
Os encerramentos das músicas são, sem dúvida, os mais difíceis de fazer juntos. Quando você tiver tocado uma determinada música várias vezes com o mesmo grupo de pessoas, pode ter preparado e ensaiado os encerramentos. Mas quando se está tocando uma música pela primeira vez com um grupo específico, o encerramento quase sempre resulta em caos. Há entretanto alguns truques conhecidos que você pode usar para encerrar as músicas. Uma vez que você esteja familiarizado com os encerramentos básicos, então tudo o que é preciso é uma pessoa que aja como líder para que todos a acompanhem.
O encerramento mais fácil, usado em músicas aceleradas de bebop, é simplesmente encerrar a música abreviando a última nota. Isso funciona para músicas com a progressão Rhythm, como “Oleo”, e outras formas de bop, como “Donna Lee”. Como uma variação, pode-se estender a última nota por um tempo. Ou você pode abreviar a última nota, mas aí repeti-la e estendê-la depois de uma pausa de alguns tempos. Isso é especialmente feito em formas de 32 compassos em que a melodia acaba no primeiro tempo do compasso 31. Essa nota é abreviada, mas aí é repetida e estendida no primeiro tempo do compasso 32, ou como uma antecipação no quarto tempo ou no “e” do quarto tempo do compasso 31.
Outro encerramento muito usado em baladas e músicas de suingue lento é o ritardando. Simplesmente desacelere os últimos dois ou três compassos, e acabe na última nota da melodia, que pode ser segurada por quanto tempo for desejado. Uma variação dessa técnica é parar na antepenúltima nota, ou em qualquer nota perto do fim que caia no penúltimo acorde, e um solista tocar uma cadência sem acompanhamento, sinalizando ao resto da banda para voltar a tocar com a ele na última nota.
Quando estiver tocando músicas de andamento médio ou mais rápido, um encerramento muito usado é tocar os últimos compassos três vezes antes da última nota. Numa forma de 32 compassos, em que a última nota está no primeiro tempo do compasso 31, você tocaria a forma até o fim do compasso 30, aí tocaria os compassos 29 e 30 novamente, e aí mais uma vez, antes de finalmente tocar o compasso 31. Isto pode ser combinado com o ritardando ou a cadência, ou a última nota pode simplesmente ser abreviada.
Outra abordagem é a repescagem III-VI-ii-V. Se a música acaba com uma cadência ii-V-I nos últimos quatro compassos, então dá para substituir o acorde I final com a progressão de quatro acordes III-VI-ii-V, que pode ser repetida várias vezes. Por exemplo, na tonalidade de Fá Maior, se a música acabar com
| Gm7 | C7 | F | F |,
então você pode substituir isso por
| Gm7 | C7 | A7alt | D7alt | Gm7 | C7 | A7alt | D7alt | Gm7 | C7 |...
Você também pode usar substituições pelo trítono em qualquer dos acordes dominantes. Além disso, você pode usar um acorde I (Fá Maior) no lugar do acorde A7alt. Você pode continuar com essa progressão de acordes por quanto tempo quiser, solando ou improvisando coletivamente sobre ela. Isso se chama um “vamp”. A música é finalmente encerrada com um acorde I, geralmente precedido por um firme movimento de mãos, para garantir que todos acabem juntos.
Outro encerramento bem popular é às vezes chamado de encerramento Duke Ellington, porque ele está associado aos arranjos de músicas como “Take The A Train”, que foram escritas por Duke ou executadas pela orquestra dele. Esse encerramento pressupõe que a música acaba no primeiro tempo do penúltimo compasso da forma, mas que o último acorde é um acorde I, e que a última nota é a fundamental daquele acorde. Pressupondo que a música seja em Dó Maior, você simplesmente substitui os últimos dois compassos por “Dó, Mi, Fá, Fá Sustenido, Sol, Lá, Si, Dó”, em que a segunda nota é uma sexta abaixo da primeira, e não uma terça acima. Se você tentar tocar esta linha, acho que reconhecerá o ritmo pretendido, por isso não tentarei fazer sua notação.
Lidando com Problemas
Você deve preparar-se para quando algumas coisas, ou muitas, derem errado. Se você perder seu lugar na forma, ou sentir que algum outro músico perdeu o dele, não entre em pânico. Se você se perdeu, pare de tocar um pouco para ver se você consegue ouvir onde o resto do grupo está. Isso não deve ser tão difícil se você estiver familiarizado com a música e os outros músicos estiverem razoavelmente seguros quanto a suas próprias posições. Alguém que esteja seguro de onde está pode pedir alguma mudança, ou gritar “PONTE” ou “COMEÇO” nos momentos adequados, para levar as coisas de volta aos trilhos. Se uma pessoa está claramente na posição errada, e todas as outras sabem onde aquela pessoa está, elas podem tentar trocar de posição para acompanhar o músico perdido, mas isso é difícil de coordenar. Além disso, é melhor tentar corrigir a pessoa que está fora do passo do que fazer com que todo o mundo fique fora do passo junto, porque, idealmente, o que se quer é que a forma continue ininterrupta.
Outra coisa que pode dar errado é uma mudança não intencional do andamento. Algumas pessoas tendem a correr, outras, a se arrastar. Às vezes a interação entre dois músicos com boa métrica pode fazer o andamento mudar. Por exemplo, se um pianista e um baixista tocam depois do tempo, isso pode fazer o andamento parecer arrastado, e o baterista pode desacelerar para não parecer que está adiantado em relação a eles. Se você estiver convencido que o andamento está se alterando, pode tentar conduzir uns poucos compassos para corrigir o andamento. Um metrônomo pode ajudá-lo a manter-se honesto, mas tocar com metrônomo é na maioria das vezes inapelavelmente frustrante, porque é virtualmente impossível manter um grupo sincronizado com um. Um dos motivos é que é geralmente difícil ouvir um metrônomo quando várias pessoas estão tocando. Outro é que é difícil fazer com que todos no grupo se ajuste ao mesmo tempo e da mesma maneira, caso o grupo coletivamente acelere ou desacelere uma música. Entretanto, praticar com um metrônomo pode ser uma maneira útil de solidificar a noção de tempo. Um diretor de orquestra particularmente sádico que eu conheço costumava iniciar nosso ensaio com um metrônomo, abaixar o volume depois de alguns compassos, e depois aumentá-lo, mais ou menos um minuto depois, para ver se tínhamos nos desviado do andamento.